Entrevista com Anúbes Pereira de Castro, Doutora em Saúde Pública

 

Gentilmente, a professora Anúbes Pereira de Castro, encontrou um tempinho na correria do seu dia a dia para nos conceder uma entrevista, ou melhor, uma aula sobre a importância da Saúde Coletiva em nossas vidas. Anúbes, que tem dedicado sua vida profissional à docência e pesquisas, é Doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/FIOCRUZ; Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB; Docente da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; Líder do Grupo de Pesquisa Violência e Saúde – UFCG/CNPq.

 

Qual a importância da Saúde Coletiva em interseção com as diversas áreas da saúde?

Em meados da década de 1970, o limitado acesso de muitos brasileiros aos serviços públicos de assistência à saúde foi determinante para desencadear um movimento político responsável com reivindicações para uma assistência universal e democrática no que diz respeito ao estado e à sociedade, constituindo um ampliado projeto de reforma social. Nessa linha de raciocínio, para alargar os horizontes de análise do processo saúde/doença, à Saúde Coletiva, entendendo que os fenômenos vividos, sejam eles biopsicossociais não podem ser explicados exclusivamente pelas dimensões biológicas, nos fornece um conhecimento multidisciplinar que é trabalhado na interface das ciências biomédicas e ciências sociais.

Assim, há um grande saldo na inclusão da Saúde Coletiva nos diversos cursos da área da saúde, sejam em nível de graduação ou em outros, isso porque as disciplinas e temas associados à epidemiologia, administração de serviços de saúde, bioestatística, ciências da conduta, entre outros, ancorado nesta área apresentam, dessa forma, uma critica ao fenômeno de biologização do ensino, calcado em práticas individuais, e centradas no hospital, mas, não apenas introduzindo outros conhecimentos, mas principalmente fornecendo uma visão mais completa do indivíduo, com valorização da democratização da saúde. O elo que se vem fazendo entre Saúde Coletiva e diversas áreas, não só da saúde, mas também em outras que podem fortalecer o contexto da discussão, nos permite aumentar as possibilidades de compreensão quanto aos fenômenos vividos e atuar de maneira positiva com propostas de políticas e ações de saúde.

 

De que maneira as Ciências Biomédicas e Sociais produzem conhecimento e medidas promotoras e preventivas da saúde?

 

Há uma complexidade no processo saúde-doença que tem outorgado uma diversidade de produção de conhecimento explicando os determinantes da saúde. Embora entendamos que não é fácil aproximar conceitualmente paradigmas opostos, há compreensão de que através da Saúde Coletiva podemos trabalhar a retórica para saúde nos diversos campos de saberes, além do mais, trabalhar na complexidade biopsicossocial do ser humano, e nas interações dos múltiplos e dinâmicos determinantes.

 

Na prática, como os usuários atendidos na Atenção Primária se beneficiam de ações em Saúde Coletiva?

 

São diversos os benefícios das ações em Saúde Coletiva, isso porque os profissionais que atuam em Saúde Coletiva atuam na perspectiva de assistir ao usuário do serviço de saúde no seu plano individual e comunitário, a partir de um conjunto inter-relacionado de processos sociais e de morbidade. Nesse sentido, na prática, os usuários terão o estudo de doenças e mecanismos de transmissão distribuídos na população e território, a gestão e análise dos serviços, o desenvolvimento de política e estratégias de promoção da saúde, entre outras, que na prática são disponibilizados no dia a dia da prestação de serviços das unidades.

 

Nas Universidades sejam elas públicas ou privadas, os grupos de pesquisa, estudo e extensão conectam as universidades com as comunidades que estão inseridas, fomentando ações e conhecimentos científicos. Como os estudantes e profissionais podem fazer parte desse tripé educacional?

 

A tríade ensino/pesquisa/extensão é princípio orientador no contexto das Universidades, sejam elas públicas ou privadas, e precisam ser trabalhadas em unidade e no mesmo nível de importância, não podem e não devem ser dissociadas. Assim, a vida acadêmica de um estudante Universitário independente do curso escolhido, precisa envolver essa relação e a Universidade precisa assegurar que essa tríade atravesse de fato os muros da Instituição. Ressalta-se que o foco de atenção desta relação (ensino/pesquisa/extensão) está na sociedade então, o envolvimento de todos é fator marcante para o desempenho dessas atividades, e a Universidade é receptiva àqueles que queiram fazer parte dessa construção, porque é a partir da compreensão político-social que se articula os conhecimentos científicos com os problemas e vivências de uma sociedade.

 

O grupo de Pesquisa Violência e Saúde (UFCG/CNPq) elabora e executa quais tipos de projetos?

 

O GPVS – Grupo de Pesquisa Violência e Saúde existe desde 2014, e da sua formação até a atualidade vem reunindo membros da Comunidade Universitária (docentes, discentes e técnico-administrativos) de Instituições públicas e privadas, das diversas ciências, e também a sociedade em geral, seja através de outros órgãos ou entidades, ou através da população e grupos que tenham interesse em participar. O GPVS elabora e executa estudos que envolvam o contexto da violência como foco de discussão no âmbito da saúde pública. Colocamos em prática a investigação participativa, e a partir dela traçamos o diagnostico situacional para com base nesses dados possamos planejar e implementar ações de saúde para a situação estudada. Hoje há projetos sendo desenvolvidos em diversos segmentos sociais (escolas públicas e privadas, instituições de ensino, ILPs, delegacias, entre outras) que discutem o bullying entre escolares, a violência praticada por familiares, casos de violência contra mulher e idosos atendidos em unidades de assistência à saúde, e também em ambientes especializados, e o mais recente estudo desenvolvido com pesquisadores da Universidade de Alagoas – UFAL, que traz a violência contra mulheres afro brasileiras. Em parceria com diversas Instituições desenvolvemos ciclos de debates, mini cursos, Congressos e publicações científicas. Hoje estamos com seis livros produzidos e publicados pelo grupo que nos orientam para discussão da temática, um periódico científico e às vésperas da publicação do livro Velhice na contemporaneidade pela EDUFCG.

 

 

Como líder do grupo de Pesquisa Violência e Saúde (UFCG/CNPq), como você visualiza a aplicação prática dos conhecimentos teóricos na vida profissional dos integrantes do grupo?

 

A inserção no grupo permite ao participante reconhecer contextos teóricos de discussão para o fenômeno da violência, e elementos cotidianos que muitas vezes não são percebidos como determinantes de tal fenômeno, a exemplo de atitudes, ações, situações, discursos, vivências, e muito mais. Para aqueles que estão em atividade profissional ou que irão se inserir na vida profissional é um caminho para compreensão de ações preventivas para violência, e de investigação, abordagem e tratamento de vítimas/agressores. Para aqueles que não fazem parte do universo profissional, mas que participam de grupos de pessoas que vivem ou viveram o fenômeno ou simplesmente têm interesse na temática é a porta de entrada para a discussão e disseminação do saber.

 

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